Para quem trabalha com informação regional e tem um programa como Portugal em Direto, como se vivem as autárquicas?.A estratégia do programa é procurar distanciar-se do período de eleições porque a tendência é para, nestes momentos, os autarcas que estão no poder procurarem ser notícia e capitalizar. Se Portugal em Direto fosse por esse caminho, tornava-se num programa de política. A estratégia tem sido procurar não dar voz aos autarcas durante a campanha..E quando começa esse distanciamento?.Quando começa a desenhar-se a hipótese das autárquicas, em que os atuais presidentes podem vir a recandidatar-se. Começamos a ter cuidado, a fugir de tudo o que envolve, não as autarquias, mas os presidentes..Mas deixar este vazio ser ocupado por jornais e rádios regionais que filmam debates e entrevistas e colocam na web não esvazia as generalistas e os programas mais regionais?.Não, é a tendência na informação e tudo passa por aí. Os canais generalistas tem de se reposicionar nessa nova realidade..Qual seria o reposicionamento de Portugal em Direto?.Temos de estar no canal generalista e na web, mas de alguma forma a RTP já vai fazendo isso porque vai repescando e cai colocando reportagens na net. Esquecemo-nos de que, hoje em dia, os canais generalistas ainda são muito importantes, mas a RTP tem de ir pensando nesse caminho alternativo..Mas se as autárquicas mexem com a vida das pessoas, o programa não devia abordar a temática?.Não, iríamos fugir da filosofia do próprio programa. Há depois debates específicos, entrevistas que as televisões criam nessa altura..Que este ano não deverá haver, devido à falta de entendimento entre televisões e reguladores em torno da lei..Pronto. Mas de uma forma geral fazem. E, por exemplo, sempre que se fizeram debates sobre autárquicas, e por regiões, nunca fui eu chamada aos debates. É a Fátima Campos Ferreira ou outra pessoa..E como olha para a decisão? Há mágoa?.Não, nada. É uma coisa natural. Eu não sou, nunca fui, nos 35 anos que tenho de televisão, muito ligada à política, passei sempre um pouco à margem [risos]. Q.b..Mas porquê? Sobretudo porque foi uma adolescente politicamente envolvida....Sim, mas isso foi tão marcante de forma negativa... A minha ligação ao Partido Comunista, a Rádio Universidade (RU), foi tão negativa que quando abracei a profissão de jornalista disse que não me queria envolver com partidos políticos..Cortou com a política por completo?.Tenho as minhas opções políticas, voto. Mas nunca mais me liguei a partidos de forma alguma e já fui convidada duas ou três vezes para me candidatar à câmara da minha terra, em Vila Nova de Foz Coa..Por quem?.Independente, a convite do Partido Socialista..Ponderou?.Hum... Na altura, respondi que nunca tinha pensado nisso. Depois, a minha mãe [Emerenciana] pediu-me para não me meter. O meu pai [Adão Aguiar] foi autarca logo após o 25 de Abril e durante 23 anos seguidos..Porque não seguiu?.Dei ouvidos à minha mãe porque achei que ela tinha alguma razão. Foi há quase dez anos e eu já estava na área da informação das regiões. Considerei que era muito cedo, mas não quer dizer que não venha a considerar isso mais tarde, se for o caso..O que a levaria a voltar à política depois de tantos anos zangada com ela?.Muitas pessoas da minha região perguntam-me porque não me candidato... e provavelmente seria mesmo eleita porque, por um lado, pela ligação afetiva que as pessoas têm comigo, depois porque acreditam em mim. Hoje em dia, tenho uma imagem de credibilidade e o facto de ter estado sempre aqui leva a que as pessoas pudessem acreditar que poderia fazer alguma coisa por elas. Daquilo que é a minha maneira de ser, sou afetiva e empenhada, sou capaz de morrer por um ideal, luto até ao fim, mas isso leva-me por vezes a pensar que não seria bom... [risos].."PARTICIPEI EM CAMPANHAS DE ALFABETIZAÇÃO".Quando se envolve no Partido Comunista, foi já em Lisboa ou foi ainda em Foz Coa?.Foi em Lisboa, logo após o 25 de Abril. Na altura, enquanto estudante do Instituto Superior de Línguas e Administração - onde fiz Alemão e Inglês - fui para as ruas, curiosa como toda a gente, e comecei a conhecer pessoas. Abordaram-me, tinha amigos e foram eles que me levaram..O seu pai era do PCP?.Não, o meu pai era completamente de direita..E então era mesmo uma menina rebelde..Eu e os meus irmãos [risos]. Eu era do PCP, outro da UDP e outro do MRPP. Éramos três radicais [risos]. Eles, também como eu, não são filiados em nenhum partido. Digamos que largámos a política..Andou a colar cartazes?.Sim, a seguir ao 25 de Abril [risos]. Fazia vigilâncias revolucionárias..Posso pedir-lhe uma história desse tempo?.[pausa] Lembro-me de quando estávamos na Rádio Universidade, entretanto entrei na Faculdade de Letras, e fazíamos vigilâncias. Houve situações em que estávamos a noite toda a olhar para o nada [risos]. Era uma coisa do outro mundo. Participei nas campanhas de alfabetização, ia com outros estudantes ensinar a ler e a escrever. Esse trabalho era interessante e foi uma forma de ajudarmos. Foi uma experiência de que não me arrependo e que, se voltasse atrás, voltava a fazer de outra forma. Mas nessa altura já tinha uma consciência e rapidamente vi que não era o que queria....Porque saiu?.Saio em 1975, com a mesma determinação. Foi a rádio e o turismo estudantil que tiveram de fechar porque o MRPP estava a tomar posse daquilo. Questionei sempre o PCP porque, se defendia os trabalhadores, estava a pôr em causa o trabalho de todos nós. Se íamos todos para o desemprego, íamos comer do quê? O comité central decidia que tínhamos de fechar aquilo... achei que eles defendiam tudo menos os trabalhadores..Lembra-se de Durão Barroso?.Lembro-me [risos]..Do que se lembra dele? Galvanizando?.Completamente [risos]. Mas sendo da União dos Estudantes Comunistas, eram uns radicais e não lhes dávamos muito crédito..Como olha para a política hoje em dia?.[Longo silêncio]. É preciso voltar a acreditar. O mundo está quase num caos e vai ser necessário renascermos para outro tipo de sociedade, mais virada para o amor, não tão materialista. Acho que o sistema está a falir, as pessoas têm de começar a não ser tão obcecadas pelo lado material..O que mudaria?.Mudaria tudo..A democracia e o capitalismo teriam de ser totalmente repensados, no seu entender?.Sim, tudo. E vai acabar por acontecer. O planeta é um laboratório e um palco, onde viemos para viver experiências e para crescer do ponto de vista espiritual. O bem e o mal têm de existir, temos de confrontar-nos com o essencial.."NO PERÍODO DE INCÊNDIOS, AS PESSOAS TRABALHAM 24 SOBRE 24 HORAS".Voltando à RTP e ao Portugal em Direto... Com as delegações regionais a serem reduzidas, com jornalistas a fazer rádio e TV, como coordenadora, pergunto-lhe: vive-se pior?.É muito mais difícil trabalhar assim, as pessoas são muito mais requisitadas e, neste período de incêndios, trabalham 24 sobre 24 horas, é muito pesado mesmo..Onde sentem as limitações?.As pessoas estão mais do que disponíveis e às vezes não são suficientes. A nível do programa, vemos que têm de estar a fazer reportagem para o Jornal da Tarde, o Portugal em Direto, o Telejornal, para a rádio. Houve uma altura em que tínhamos equipas só para nós. Quando começou, o Portugal em Direto tinha carros de exteriores e tínha todas as condições e mais algumas. Hoje em dia, vá lá, há mochilas [risos]... é mais fácil e barato..Perdeu quanto? Cinquenta por cento da capacidade de meios que tinha em oito anos?.Se calhar... não sei. Não considero perder, prefiro falar em reorganizar. É a adaptação aos novos tempos. Hoje também já não é preciso um carro de exteriores com satélite para fazer reportagem, já pode ser feito com mochila, já não tem os mesmos custos. Seria errado continuarmos a usar os mesmos equipamentos..Mas as regiões mantêm a sua expressão não tendo tantos profissionais por perto?.Quem está ainda nos centros regionais continua a fazer um esforço para recolher o essencial, mas é evidente que, se calhar, muitas coisas nos passam ao lado. Com menos gente não se consegue fazer tudo o que era para fazer. Continuamos a dar o nosso melhor..Tem um orçamento mais reduzido hoje?.Nem sequer temos orçamento [risos]. Inclusivamente, acho que é daqueles programas que dão lucro à casa. Ou seja, nós não devemos gastar o nosso orçamento todo e, atendendo às audiências, acabamos por ser uma aposta muito positiva..Os dados anuais dão uma recuperação em auditório desde 2009..No verão os números descem sempre, mas quando muda a hora começamos a liderar as audiências. A SIC surgiu com programas alternativos, e a minha postura foi sempre venham eles... todos têm direito às audiências..Mas seria difícil um programa com uma média de 457 mil pessoas subsistir num operador privado. Ele existe porque que é público..Claro..O Nós por Cá, que não ia no mesmo horário, até acabou, em 2010, com uma média mais alta do que o Portugal em Direto nesse ano..Mesmo com os resultados do Portugal em Direto de inverno? Não tenho os dados, mas na altura nem percebi porque não fizeram no mesmo período do Portugal em Direto. Na altura pensei que viessem a fazer, mas não..Faz 35 anos que entrou na RTP, onde começou a apresentar. Lembra-se do primeiro dia?.Foi a 1 de agosto. Vinha completamente insegura e com medos. Já tinha a experiência da rádio, fazia um pouco de tudo, era estudante universitária e vinha para fazer jornalismo. Mas estava muito apoiada, com bons profissionais, era um pouco a caçula do grupo. Estava cá o Joaquim Letria, o Joaquim Furtado, o Miguel Sousa Tavares, a Diana Andringa, o José Solano de Almeida, o Carlos Pinto Coelho, o José Júdice, o António Mega Ferreira. Era o Hernâni Lopes, o José Rocha Vieira. Era a nata, comecei com um grupo tão elitista que nunca mais encontrei um como este. A Margarida Marante começou nessa altura..Ambas começaram na mesma leva. O desaparecimento dela mexeu consigo?.Foi um bocado prematuro, gostava dela. Lido com a morte de forma natural porque morte é transformação. As pessoas escolhem os caminhos e têm de ter consciência de que as faturas chegam um dia..Faturas?.Se eu comer mal, se beber álcool, se me drogar, e estou a dar vários exemplos para tudo, um dia temos o retorno. No caso dela, foi muito prematuro, foi uma grande surpresa. Ela ainda teria muito para dar, poderia estar a fazer coisas na televisão e foi uma pena ter-se perdido. Mas voltando ao primeiro dia, o Hernâni chamou-me para me dizer que eu ia apresentar um programa. Eu? É que quem tinha estado a ser preparada tinha sido a Margarida Marante. A razão que me deram é que ela tinha uma imagem muito jovem, tinha 18 anos e eu 23 ou 24. Eles queriam uma imagem de maior maturidade..Foi para Informação 2..Sim. Na altura, trabalhava tanto, tanto. Ia para o terreno, fazia reportagem, montava, ainda em filme, e vinha para depois me preparar para apresentar.."OS VERDADEIROS AMIGOS NUNCA SE PERDEM. "LIFE GOES ON"".Qual o pior e o melhor momento ao longo de 35 anos de percurso?.O pior momento foi na Informação 2. Tive um período de pausa, depois voltei, a minha ansiedade e medo eram tão grandes que as minhas mãos paralisaram, não conseguia mexê-las, foi um momento traumático. O meu melhor momento... a entrevista a Amália, a experiência do ECO1992, no Rio de Janeiro, foi importante estar com Dalai Lama, mais do que com João Paulo II..As suas escutas com Armando Vara, no caso Face Oculta, poderiam ter posto em causa o seu percurso?.Porquê?.Na altura, Alexandra Borges [jornalista da TVI] acusou-a de lhe ter passado informações sobre uma investigação da TVI que tinha sido falada num jantar particular..Não quero falar disso. Na altura, o que tinha para dizer disse e não comprometeu nada, nem tinha de comprometer porque eu não estava envolvida, como não estou, nem tive problema nenhum. Se estivesse, tinha sido chamada, não fui..Perdeu uma amizade?.Os verdadeiros amigos nunca se perdem. Life goes on [a vida continua]..Mas porque o fez?.Não quero falar disso, é passado. Continuo, no meu íntimo, a sentir o mesmo que sentia por ela. Em termos de amizade, não julgo as pessoas. Ela julgou, está no seu direito..Está há 15 anos em formatos de informação regional. O que gostava de fazer na RTP?.Um outro programa [risos], além deste. Se tiver para acrescentar alguma coisa a alguém, os espectadores, fazia sentido..Há anos falava num projeto tipo Oprah Winfrey, era essa a sua ideia?.Sim, mas um pouco adaptado à nossa realidade hoje [risos]..Era possível fazê-lo na RTP?.Não sei, vamos ver [risos]. Nunca se sabe.."GOSTAVA DE FAZER UM PROGRAMA EM QUE PUDESSE REFLETIR FORMAS DE VIVER MELHOR".Fala-se em novos projetos para o day time. Está incluída neles?.Ninguém me disse nada. Mas de alguma forma, com os condicionamentos de pessoal que existem na RTP, talvez pensem no capital humano que têm..Gostava que olhassem para si de uma outra perspetiva? Qual?.Sim. Provavelmente pelo infotainment. A RTP está a definir a estratégia de programação e depois cá estamos nós para servir.Já propus a esta direção, mas teria de ser sempre um programa semanal. Gostava de fazer um programa em que pudesse refletir formas de viver melhor e isso abarca tudo. De resto, programas de política? Nos jornais? Estive lá 12 anos, não quero mais. No programa que idealizo, podia ter entrevistas em que pudesse escolher as pessoas e que elas pudessem ensinar alguma coisa. As pessoas estão perdidas, não veem saídas. A maior parte está perdida no passado, com sentimentos de culpa, dominada pelo medo e insegurança e isso não leva a lado nenhum..As pessoas têm medo, estão a perder os seus empregos..Não têm trabalho e a minha filha [Ana Aguiar] também não tem. Está no desemprego, a família apoia e ela vai lutando pelas coisas dela. A dificuldade está para toda a gente, está em todo o lado e todos nós a temos. A sociedade, o planeta, o cosmos, o universo, estão a obrigar-nos a pensar. Se calhar, vamos ter de começar a dar mais as mãos. Estamos numa sociedade demasiado consumista. Por um lado, consumíamos mais do que precisávamos. Chega a um ponto de rutura, de colapso, acho que temos de voltar atrás e olhar para o essencial. Mas precisamos, se calhar, de comer menos..Isabel Jonet [presidente do Banco Alimentar] foi o centro de uma polémica por isso..Foi por causa do bife. Não como bifes e não é por aí. Sou vegetariana e, por vezes, até os vegetais são mais caros do que a carne..Mas andamos a comer assim tanto? Há muita gente que já está a passar fome..A população já está a comer inclusivamente coisas que fazem mal. Como as pessoas já não têm dinheiro, não compram o que é essencial. Compra-se o mais barato. Também faço parte de uma organização não governamental, a Coração sem Fronteiras, desde 2008. Temos feito trabalho para a Guiné e agora estamos a fazer mais em Portugal. Sentimos no terreno essa necessidade. Há as pessoas que, por razões psicológicas ou físicas, não podem refazer a sua vida, caem no desemprego e a sociedade tem de ter a responsabilidade de as ajudar.."Em relação aos anos de casa e o que represento, acho que não estou bem paga".Esteve em todos os programas de informação, está há anos no ar sem interrupção. Sente que se têm esquecido de si nas tardes?.Acha que isso é esquecer?.Mas tem outros projetos..Depois do que já fiz e das opções que tomei, de ter feito todos os serviços de informação e de ter dito conscientemente que não queria entrevistas em política. Se estou há 35 anos em antena, não é estar na prateleira. Certo?.Certo. Mas também tem outros projetos..Tenho um capital humano e jornalístico que a RTP deveria aproveitar. Tenho uma credibilidade que é importante para a casa..E ela tem sido aproveitada?.Até aqui tem sido aproveitada no Portugal em Direto. Creio que a direção tem a consciência dessa minha credibilidade, da importância que tenho para a Informação. O sucesso do Portugal em Direto também passa por mim, sou a imagem do programa. A não ser esse aspeto que referiu há bocado, que foi um episódio chato, tenho pautado a minha vida e tenho feito opções de não aceitar pontualmente convites para assessorias de ministérios e não aceitei exatamente por respeito à minha profissão. E creio que esse é provavelmente o segredo da minha longevidade em televisão, no fundo manter-me fiel a mim própria e ao espectador..Que força política a tem convidado? O PS?.Humm... [pausa] Disse que o PS tinha sido nas autarquias. Agora, não comento [sorrisos]..A fidelidade à RTP é uma opção ao longo dos anos. Chegou a ser sondada por outros canais, porque não saiu?.Não tive nenhum convite direto, fui sondada no sentido de alguém, com influência e poder, me perguntar se queria ir. E a resposta foi sempre não. E se me perguntam se estou arrependida, a minha resposta é não! Estou muito bem onde estou. À exceção de um momento em que até fui eu que provoquei a situação e me senti na prateleira, quando estive a fazer o 24 Horas na RTP Internacional, porque não quis fazer o Regiões..Não foi um castigo?.Não foi castigo. Sou convidada para fazer o Regiões e disse que não, tinha de fazer qualquer coisa..Depois, o que a levou a aceitar fazer o segmento de informação regional?.As pessoas insistiram, o programa era a minha cara, entretanto acabou a Informação na RTP Internacional..Nem com os cortes salariais pensou em sair da RTP?.Tenho levado cortes, mas também nunca tive um ordenado muito grande. Têm sido cortes como os da função pública e acaba por ser significativo. Como há pouco disse, isto está a tocar a todos, o que nos obriga a repensar a nossa vida, a repensar os valores e, se calhar, temos de ver coisas mais importantes..Quanto perdeu?.Não sei dizer ao certo. Sensivelmente vinte por cento. Em relação aos anos que tenho de casa e o que represento, acho que não estou bem paga [risos]. Não tenho os grandes salários da RTP, mas também nunca me preocupei, nem nunca vivi em função disso..Sente-se discriminada?.Nunca pensei nisso. Nunca pautei a vida pelo dinheiro. Ele chega na medida em que eu preciso. Mas se pensasse de forma materialista, tinha gerido a vida de outra forma..Tinha saído?.Tinha aproveitado [risos], tinha feito jogadas como muita gente faz. Tinha-me insinuado com os conhecimentos aqui e ali. Mas nunca o fiz. Não há ninguém que possa apontar-me o dedo. Durmo descansadinha. Prefiro comer pão e sopa do que vender a alma ao diabo..As pessoas têm feito isso, jogadas?.Não. Não estou a julgar nem a visualizar ninguém. Estou a falar em relação a mim, à minha filosofia. Nunca fiz, não vou fazer..Pensou candidatar-se a este plano de rescisões voluntárias?.Não. No anterior, em 2011, cheguei a ponderar pedir as contas para ver. Falei com o presidente [Guilherme Costa] e ele disse-me: "Escusa de pedir, que nós não vamos deixá-la sair.".O que a levou a pensar nessa hipótese e o que iria fazer depois de sair da RTP?.Eram as condições, mas também não era o dinheiro que me movia. Estou feliz aqui e decidi deixar-me estar.."CONSIGO AMAR SEM APEGO".A televisão tem um efeito de poder fora de portas? Sente-o?.Não tenho essa dependência e nunca senti necessidade de usar esse poder. Nunca me senti ninguém especial por as pessoas me conhecerem. Outra das filosofias de vida é não depender de ninguém, nem de afetos. Não sou desumana, não sou dependente, sou desapegada. Quando sinto que estou a ficar muito apegada, desvinculo-me. Consigo amar sem apego..Nas entrevistas que foi dando explica que o verdadeiro amor era o que estava dentro de cada um e não depender dos outros..Cada vez mais temos de nos amar e aceitar..Sente-se amada?.Sinto e das mais variadas formas. Tenho o amor dos meus netos, a espontaneidade de os ouvir dizer "vó". Não depender, é importante estar presente, dar afeto..Foram desaires amorosos que a colocaram nesse caminho?.Está a ir para a minha vida pessoal [risos]. Esses desaires amorosos, quando acontecem, surgem para nós evoluirmos num determinado sentido. Pode ser a perda de pessoas, a perda da minha mãe, a perda de namorados e maridos, tudo isso são formas de ensinar a olharmos para nós. Nem acho que sejam uma coisa negativa. Tudo o que acontece em matéria de perda é sempre uma coisa para me levar a olhar para dentro, a aceitar e a amar-me, e hoje sou essa pessoa..Ainda que não queira projetar o futuro, há uma data que se pensa: a da reforma. Já decidiu o que quer fazer?.A pouco e pouco, a vida está a levar-me para outros caminhos. Fiz reconexão com Eric Pearl, estou no nível 3, fiz apometria quântica, sou muito ligada às curas. Possivelmente, posso vir a ser chamada para esse caminho, mas não é uma coisa que esteja a definir como objetivo. Se tenho curiosidade, vou. Não penso na idade da reforma. Posso ir amanhã embora! Quando for, será. O que me interessa é um dia de cada vez. Se morrer, já foi, mas celebrem! [risos].Celebrem?.Sim, celebrem. Quando a pessoa que nós amamos morre, entrega-nos o seu amor, crescemos em matéria de amor. O sentimento não se desfez, transformou-se e eu fiquei mais rica. Penso no meu avô e nos rebuçados que me dava quando era miúda com um sorriso, penso na minha mãe com um sorriso. Vamos todos partir, cada um tem o seu tempo e eu aceito isso. Quando aceitamos, conseguimos mudar as contrariedades da vida, não podemos agarrar-nos ao sofrimento e à perda. A sociedade, todo o mundo, tem de começar a olhar para o lado e ver o que podemos fazer uns pelos outros e ficarmos melhor.."SE NÃO ESTIVESSE NA IMAGEM, SE CALHAR NÃO TINHA FEITO CIRURGIA".Quando se faz cirurgia estética, tal não significa que se fica depois dependente da imagem, da resposta do espelho?.Não tenho isso. Fiz há quatro anos e não tenho essa dependência. Nós que dependemos da imagem temos a responsabilidade de dar o nosso melhor. Se não estivesse na imagem, se calhar não tinha feito..Se não estivesse na televisão, não tinha feito?.Se calhar não, mas da mesma forma que vou ao cabeleireiro e me maquilho, não vou para a televisão despenteada e tal como estou. É retardar o envelhecimento, não acho isso errado e por isso o fiz. Acho absurdo as pessoas não reconhecerem..Porque é que as pessoas não reconhecem?.Têm de perceber que, se temos 50 ou 60, é normal que a gente vá envelhecendo... Se uma pessoa faz e diz que não faz, é absurdo..É artista plástica, pinta todos os dias?.Pinto muito pouco nesta fase, a televisão está a exigir muito de mim [Dina está também a coordenar o Portugal em Direto], e tenho menos tempo. Talvez quando tiver mais, volte a ser mais intensa..Fez muitos retratos, quem gostava de retratar agora?.Não sei, é muito difícil. A minha pintura está mais mística [sorrisos]. Não tenho nenhuma exposição, estou a pintar mais devagar, mais para mim. As coisas têm de ir não tanto ao meu ritmo, mas ao do universo. Já não tenho projetos nenhuns em especial, as coisas vão acontecendo à medida do meu subconsciente. Estou numa fase de harmonização, de trabalhar a parte mais espiritual, fazendo as formações ligadas às quânticas e à reflexão..A família tem uma quinta no Douro, vai vindimar este ano?.Tenho as férias marcadas para as vindimas..Gosta de vindimar?.Eu não vindimo [risos]. Quando era miúda, vindimei uma vez ou outra. E agora, o pessoal gosta de me ver por lá. No ano passado fui lá e vindimei um valado com eles, começaram a dizer que eu sabia [risos]. A minha mãe dizia-me que, para mandar fazer, temos de saber fazer. Portanto, sei fazer um bocadinho de tudo..O que faz lá?.Chego ao Douro e tenho outras tarefas, temos a adega e outras coisas para gerir. Temos amêndoa e azeitona. No Douro, tenho tanta coisa para fazer que não vejo televisão, nem o meu programa [risos]..Consegue desligar o chip?.Consigo. E também passa por não sentir falta. Meditamos, voltamos a nós e fica tudo bem. Nada faz falta..Leia a versão integral na edição em papel da Notícias TV